Introdução – O que é Ecologia Industrial?

Em 1989, Frosch e Galloupoulos, trouxeram um novo conceito, onde os sistemas industriais não apenas interagem com o ambiente, mas que é parte dele e que dependem do mesmo. Esse novo conceito é a Ecologia Industrial e aqui falaremos um pouco sobre O que é Ecologia Industrial e seus Níveisl (EI). Que leva em consideração, tanto as necessidades econômicas humanas, quanto as sociais e ambientais, pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável.

Segundo Paul Hawken, Ecologia Industrial é o estudo das redes de fornecimento industrial, materiais e energia que se relacionam a fim de minimizar o uso de recursos naturais, maximizar a eficiência ecológica e criar sistemas produtivos fechados que eliminam resíduos e poluição. Ao adotar princípios e práticas da Ecologia Industrial, as empresas podem reduzir os impactos ambientais, melhorar sua imagem corporativa, alcançar economias de custo e contribuir para a construção de uma sociedade mais sustentável.

O que é Ecologia Industrial
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A Figura 2 se trata de uma ilustração das principais relações que existem na área de Ecologia Industrial (EI). Pode-se perceber a grande quantidade de interações entre fornecedores, indústrias e consumidores, que visam gerar o mínimo de resíduos e aproveitar ao máximo os recursos que estão disponíveis.

Figura 2: Relações da Ecologia Industrial

Fonte: SUMMA (2019).

É importante ressaltar que a EI é um campo multidisciplinar que busca promover a sustentabilidade na interface entre a indústria e o meio ambiente. As interações entre fornecedores, indústrias e consumidores são fundamentais para alcançar uma economia mais circular e eficiente, em que os recursos são utilizados de forma inteligente e os resíduos são minimizados.

A Ecologia Industrial é dividida em três grandes níveis de integração e os mesmos em áreas, como demonstrados na Figura 3, no nível empresarial temos a Produção mais limpa (P+L), o ecodesign e a ecoeficiência. No nível interempresarial encontra-se ferramentas como a análise do ciclo de vida, a simbiose industrial, a análise do fluxo de materiais e a responsabilidade compartilhada. Já no nível global destaca-se a análise do fluxo energético, o metabolismo humano, a descarbonização e as políticas ambientais (BOUZON, 2021).

Figura 3: Áreas da Ecologia Industrial

Fonte: CLIFT e DRUCKMAN (2016).

NÍVEL EMPRESARIAL – O que é Ecologia Industrial?

Concentra-se as práticas e estratégias adotadas pelas próprias empresas para minimizar seus impactos ambientais e inclui a implementação de medidas por produção mais limpa, ecodesign e ecoeficiência.  

A Produção mais limpa (P+L) – O que é Ecologia Industrial?

Tem como objetivo aumentar a consciência da indústria sobre as questões ambientais relacionadas à má gestão, com foco nas operações, na redução de resíduos, na sustentabilidade ambiental e na máxima reutilização e reciclagem de materiais. Um exemplo de sucesso na aplicação da produção mais limpa é a Natura que utiliza a energia solar para ajudar na redução de emissão de carbono da empresa. Uma estratégia que tenha como base a P+L realiza mudanças em tecnologia, processos, recursos e práticas, com a finalidade de reduzir os riscos de desperdício, impactos ambientais e à saúde; utilizar energia e recursos naturais de forma mais eficiente; aumentar a rentabilidade e competitividade do negócio e melhorar a eficiência dos processos de produção.

Ecodesign – O que é Ecologia Industrial?

O seu principal intuito é encontrar um ponto de equilíbrio entre a demanda humana e os impactos ambientais, seja na escolha de materiais menos poluentes, não tóxicos, de produção sustentável ou possíveis de reciclagem, ou na minimização do consumo de energia para os processos de fabricação, além de projetar produtos para sobreviver ao seu ciclo de vida, podendo ser reutilizados ou reaproveitados para outras funções após seu primeiro uso (MMA, 2012).  Checklists, frameworks, softwares e ferramentas de classificação e priorização podem ser utilizados para se alcançar um ecodesign eficiente. 

Ecoeficiência – O que é Ecologia Industrial?

O termo “ecoeficiência” surgiu pela primeira vez em 1996, quando o World Business Council for Sustainable Development (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável) a definiu como um método de produzir e fornecer bens e serviços competitivos no mercado com menor consumo de recursos naturais (como água, energia, espaço físico, entre outros) e menor geração de poluição.  O objetivo é satisfazer as necessidades humanas e, ao mesmo tempo, manter a qualidade de vida com o mínimo possível de efeitos negativos sobre o meio ambiente (ECOEFICIENTES, 2013). A adoção de uma estratégia ecoeficiente exige a adaptação do modelo de gestão e a integração de planos e políticas ambientais.

NÍVEL INTEREMPRESARIAL – O que é Ecologia Industrial?

Enfoca as interações e sinergias entre as empresas de uma região ou setor industrial, fazem parte desse nível a ACV, SI, AFM e a responsabilidade compartilhada.

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) – O que é Ecologia Industrial?

É uma técnica para avaliar os impactos ambientais associados a todas as etapas da vida de um produto, do berço ao túmulo, permeando a extração, o processamento, a fabricação, a distribuição e o uso de produtos e materiais. A implementação da ACV pode gerar benefícios ambientais, econômicos e sociais para a empresa e para a sociedade como um todo. Um exemplo é a utilização na indústria automobilística para avaliar o impacto ambiental de carros elétricos em comparação com carros a gasolina ou diesel. A ACV considera todas as etapas do ciclo de vida dos carros, desde a extração de matérias-primas até o descarte final, e pode ajudar a identificar oportunidades de melhoria no processo produtivo, como a redução do uso de materiais e a otimização do consumo de energia.

A Simbiose Industrial (SI) – O que é Ecologia Industrial?

Promove a relação entre empresas envolvendo a troca física de materiais, energia, água, tratamento de esgoto (duas empresas podem compartilhar a mesma estação de tratamento) ou subprodutos (o excedente de uma empresa pode ser tornar o insumo de outra), com o objetivo de usar os resíduos produtivos de maneira eficiente. No Brasil, temos o Programa Mineiro de Simbiose Industrial (PMSI) que vem apresentando resultados satisfatórios. A lógica da SI de fechar os ciclos por meio da troca de materiais entre empresas está diretamente alinhada com o conceito de Economia Circular (MULROW et al, 2017).

Análise de Fluxo de Materiais (AFM)

É um método analítico para quantificar os fluxos e estoques de materiais ou substâncias em um sistema bem definido. AFM é uma ferramenta importante para avaliar as consequências físicas das atividades humanas e as necessidades no campo da Ecologia Industrial, onde ele é usado em diferentes escalas de espaço e tempo. Exemplos de contabilidade de fluxos de materiais é sua aplicação dentro certas indústrias conectadas num ecossistema, a determinação de indicadores de uso de materiais por diferentes sociedades, o desenvolvimento de estratégias para melhorar os sistemas de fluxo de materiais na forma de gestão do fluxo de materiais.

A Responsabilidade Compartilhada

é um princípio chave na Ecologia Industrial (EI) que se refere à distribuição das responsabilidades e ações entre diferentes atores (governos, indústrias, consumidores e a sociedade em geral), para promover a sustentabilidade ambiental. Esse princípio reconhece que a responsabilidade pela redução dos impactos ambientais não deve recair apenas sobre um único ator, mas deve ser compartilhada por todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto ou processo industrial. Na prática, a responsabilidade compartilhada implica em várias medidas e ações.

NÍVEL GLOBAL – O que é Ecologia Industrial?

são abordadas questões mais amplas relacionadas à sustentabilidade e ao impacto ambiental das cadeias de suprimentos globais, como AES, MU, descarbonização e políticas ambientais.

Análise energética de sistemas (AES) – O que é Ecologia Industrial?

Com a finalidade de aumentar a eficiência energética e identificar as fontes de energia se faz necessário o mapeamento da utilização da energia em todos os processos produtivos. Alguns exemplos para se obter a melhoraria eficiência energética numa empresa pode ser aproveitar ao máximo a iluminação natural, minimizar as perdas de temperaturas, utilizar energia provenientes de fontes renováveis (como por exemplo, a energia solar), empregar motores elétricos de alto rendimento nos processos de fabricação, dentre outras. 

Metabolismo Urbano (MU)

Representa o conceito de que as cidades podem ser comparadas metaforicamente a organismos vivos, pois consomem recursos de seus arredores e excretam resíduos. Segundo Galvão et al. 2017, o Metabolismo Urbano considera a análise da cidade como um organismo vivo, onde os fluxos de entrada e saída de materiais e energia associados às atividades de produção e consumo são sistemáticos, tornando-se necessário compreender o funcionamento desses fluxos para a adoção de um modelo de gestão adaptativa. 

Descarbonização

É um conceito que se refere à redução das emissões de gases de efeito estufa (principalmente dióxido de carbono – CO2) associadas às atividades industriais. Através da descarbonização, busca-se minimizar o impacto das indústrias no aquecimento global e na mudança climática, promovendo a transição para uma economia de baixo carbono. Ao trabalhar na descarbonização de seus processos, as empresas podem antecipar e cumprir essas regulamentações, evitando multas e penalidades. Além disso, empresas que se destacam na redução de emissões podem obter vantagens competitivas em licitações e concorrências públicas.

Dentre as principais Políticas Ambientais destacam-se: Novo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651-2012), Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605-1998), Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938-1982), Lei de Fauna (Lei 5.197-1967), Lei Florestal (Lei 12.651-2012), Política Nacional e o Sistema de Recursos Hídricos (Lei 9.433-1997), Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985-2000), Área de Proteção Ambiental (Lei 6.902-1981), Política Agrícola (Lei 8.171-1991), Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605-1998), Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305-2010),  Política Nacional da Educação Ambiental (Lei 9.795- 1999) (IBF, 2021). Mesmo que exista esse conjunto de leis ambientais brasileiras para assegurar e garantir sua proteção ou para envolver o meio ambiente, ainda estamos longe de aplicar esse conjunto de leis da forma que está escrito, com leis que promovam e assegurem a proteção, conservação, medidas para gerar menos impactos, punição a crimes ambientais, porém ainda carece de maior eficácia na prática, e as autoridades implementam o conteúdo estipulado na lei e na Constituição Federal do Brasil (DE CARVALHO & FERREIRA, 2018). 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • A história do termo Ecoeficiência. Ecoeficientes, 2013. Disponível em: http://www.ecoeficientes.com.br/a-historia-do-termo-ecoeficiencia/. Acesso em: June 20, 2023.
  • ARRUDA FILHO, N. P.; LOIOLA, G. F. Práticas de Gestão Empresarial Sustentável, Apostila do curso de pós-graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade na FGV, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2021.
  • BOUZON, Marina. Logística Reversa e Economia Circular. Apostila do curso de pós-graduação online em Meio Ambiente e Sustentabilidade.  FGV, 2021. 
  • BRUNNER, P.H.; Rechberger, H. (2004). Practical Handbook of Material Flow Analysis. Lewis Publishers, New York. ISBN 1566706041.
  • CLIFT, R.; DRUCKMAN, A. Taking stock of industrial ecology. New York: Springer, 2016.
  • DE CARVALHO, R. C. R.; FERREIRA, R. L. A questão Ambiental no Brasil: Políticas Públicas e estratégias. Caderno Meio Ambiente e Sustentabilidade, v. 13, n.17, p. 5-18, 2018.
  • GALVÃO, C. D. O.; MARINHO, S. D. A. M & MIRANDA, L. I. B. Metabolismos urbano como ferramenta de suporte à gestão da água nas cidades. Encontro Nacional de Rede Observatório das Metrópoles. Natal. 2017.
  • HAWKEN, Paul.; LOVINS, Amory.; HUNTHER, Lovins. Capitalismo Natural: criando a próxima Revolução Industrial. Editora Cultrix. 1999.
  • IBF – Instituto Brasileiro de Florestas. As principais Leis Ambientais no Brasil. Disponível em: https://www.ibflorestas.org.br/conteudo/leis-ambientais. Acesso em: 04 jun. 2023.
  • MMA – Ministério do Meio Ambiente. Ecodesign. Publicado em 2012. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/informma/item/7654-ecodesign.html. Acesso em 27 ago. 2021.
  • MULROW, J. S. et al. Industrial Symbiosis at the Facility Scale. Journal of Industrial Ecology, v. 21, n. 3, p. 559-571, 2017.

SUMMA-INTERNATIONAL-HOLDINGS. What is na Eco-Industrial?, 2019. Disponível em:<https://summainternationalholdings.com/summaEcoIndustrial.html>. Acesso em: junho 2023.